quarta-feira, 29 de junho de 2011

Negrito del barrio sur(Jorge Emilio Cardoso)



Negrito del Barrio Sur

Negrito de andar aelgre,
Que reflejas tanta luz
En la pleamar de la risa
De tu cara de betún:
Pareciera, por tu gracia,
Que, en ti, habitara un vudú.
¡Ah! Cómo me gustaría
Sentirte hablar bantú!

Si hubieras nacido otrora
-en la rica Tombuctú-
Sin duda hubieras vivido
En un gran palacio azul.
O acompañando al rey Sonni,
Durmiendo en tiendas de tul
Entre oros y marfile
Y mezquitas de bambú...

Mas naciste en tierras blancas
-nieto de esclavos- y tu
No habrás de ser otra cosa
Que un niño del barrio Sur,
Ya marcado por el mito
De los negros sin virtud.

Sembrarás la desconfianza
Por tu color; y en algún
Desfile oirás los aplausos
De la falsa multitud
Que se embriaga en el candombe
De los negros como tú.

Pero yo te reverencio,
Principito de Bambouk,
A pesar que estás tan lejos
De tu arcaico reino azul
De Dahomey, de Kaulikoro,
De la rica Tombuctú

terça-feira, 28 de junho de 2011

Larry Pinkey: “EUA realizaram guerra química contra os panteras negras”





Internacional : “EUA realizaram guerra química contra os panteras negras”
em 17/05/2010

A Verdade entrevistou por e-mail o veterano líder dos panteras negras Larry Pinkney para saber um pouco mais sobre a história do Partido dos Panteras Negras (PPN), fundado em outubro de 1966 em Oakland, Califórnia, e ouvir a opinião do ex-preso político norte-americano sobre o governo de Barack Obama. Na entrevista, Pinkney confirma que, nas décadas de 1960 e 70, o governo dos EUA realizou uma guerra química para criar divisões nas comunidades negras do país E impedir o crescimento do partido.

Larry PinkneyA Verdade – Quando você decidiu fazer parte do Partido dos Panteras Negras?
Larry Pinkney – Ao se tornar claro para mim que o racismo, o capitalismo e o imperialismo estão todos interconectados e que uma organização de massas, em nível nacional, era necessária para educar politicamente e organizar os negros e outras pessoas oprimidas para denunciar e desafiar o complexo empresarial-militar que dita as regras no sistema político nos Estados Unidos, eu entrei para o Partido dos Panteras Negras.

A Verdade – Como surgiu o Partido dos Panteras Negras?
Larry Pinkney – O Partido dos Panteras Negras foi essencialmente um partido político marxista-leninista radical, nacional, baseado em comunidades com uma forte solidariedade pelas lutas de libertação do povo, particularmente através do assim chamado “terceiro mundo”. Os panteras negras começaram em Oakland, Califórnia, e rapidamente se espalharam pelas comunidades negras de todos os Estados Unidos. A plataforma fundamental e objetivos do Partido foram materializados em seu Programa de Dez Pontos.

A Verdade – Hoje, o que você mudaria no programa?
Larry Pinkney – Eu provavelmente manteria, mas ajeitaria todo o Programa de Dez Pontos. Incluiria uma frase no ponto número 5, que se refere a como o povo negro é deliberadamente desinformado por alguns que, apesar de biologicamente serem negros, não passam de cães de guarda do sistema capitalista norte-americano. Eu poderia também, em uma extensão reduzida, expandir os pontos 3, 4, 7, 9 e 10 simplesmente para evocar na mente das pessoas realidades do século 21. Também poderia acrescentar um ponto mais especificamente vinculado à solidariedade e ao internacionalismo, à relação entre as lutas dos povos no mundo.

A Verdade – O que mudou na política dos EUA nas últimas décadas?
Larry Pinkney – Duas coisas fundamentais mudaram. A primeira foi a falta de uma organização política negra de esquerda real e efetiva baseada em comunidades por todos os Estados Unidos, e a segunda, uma enorme queda do nível de consciência política de parte das massas de negros (e outras pessoas de cor) nos EUA.

A Verdade – É possível mudar radicalmente a sociedade por meios pacíficos?
Larry Pinkney – O sistema capitalista prospera sobre a divisão e exploração dos povos de todas as cores. Da maneira como o sistema define os “métodos” aceitáveis para mudá-lo, não haverá mudanças radicais enquanto o sistêmico paradigma do poder permanecer essencialmente inalterado, o que significa que não há reais mudanças radicais no sistema capitalista. Mudanças superficiais são de fato mera cortina de fumaça e, por conseqüência, definitivamente não são mudanças radicais. Só o povo pode e deve decidir quais métodos utilizar para realizar uma “mudança radical”, e isso necessita de organização de massas e politização.

A Verdade – Qual a principal realização do PPN para o povo norte-americano?
Larry Pinkney – A principal realização do PPN na luta do povo, nos Estados Unidos, foi a elevação de sua consciência através dos vários programas populares gratuitos como o café da manhã para crianças, atendimento médico, programa escolar, programa de calçados, programa de alimentação para todas as pessoas da comunidade, programa de transporte gratuito para que as pessoas pudessem visitar seus parentes na prisão. Além disso, o PPN demonstrou e provou que uma organização política de negros nacional, maciça, efetiva e radical era de fato possível. A oposição e a brutal repressão do governo dos Estados Unidos (Partidos Democrata e Republicano) contra o PPN, combinada com a constante desinformação promovida pelos meios de comunicação corporativos e o inescrupuloso programa do governo [conhecido como Cointelpro, sigla em inglês de Programa de Contrainteligência] para enquadrar, desacreditar, assassinar e prender panteras negras levou ao desaparecimento do PPN. Numerosos fundadores do PPN permanecem até hoje presos, como resultado direto do esforço repressivo do governo descrito antes.

A Verdade – Quais foram os efeitos da guerra química do governo estadunidense contra o PNN e qual a política do governo sobre a questão das drogas hoje?
Larry Pinkney – É um fato irrefutável que o governo dos Estados Unidos fez uso de guerra química, não apenas contra o PPN, mas também contra os negros e outras comunidades. Não é mera coincidência que despejos de lixo e materiais perigosos são preferencialmente lançados próximo a comunidades pobres e negras e nas terras de populações indígenas nativas. É também um fato irrefutável que o governo dos Estados Unidos fez uso de um horrível tipo de subterfúgio pelo qual drogas pesadas, como a heroína, ficassem facilmente disponíveis especialmente em comunidades negras. Isso foi algo devastador para as comunidades negras, e suas terríveis consequências são sentidas profundamente até os dias atuais. Além disso, hoje, o fenômeno do crack e da cocaína não só não é coincidência, como também serve tanto para facilitar a violência como a desunião nas comunidades negras e em outras, enquanto, ao mesmo tempo, promove outra arma legal para o governo botar na prisão massas de pessoas pobres. O fato é que o governo é profundamente cúmplice do uso de drogas que ocorre hoje, pois essa situação serve para manter negros e outras comunidades neutralizadas e sob controle. A assim chamada “guerra às drogas” do governo, a exemplo de sua “guerra ao terrorismo”, é falsa e constitui mecanismo para repressão e controle político. A responsabilidade do governo dos Estados Unidos nesse horror pode ser resumida em apenas duas palavras: subterfúgio e negação.

A Verdade – Qual o significado da eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos?
Larry Pinkney – A eleição e o gerenciamento de Barack Obama na cabeça do império estadunidense é terrível, não apenas para o povo dos Estados Unidos, mas para o povo do mundo inteiro. Obama é um fantoche do lóbi militar-industrial. Sua chegada à presidência foi um empreendimento bem-sucedido da parte das classes mandantes desta nação e também levou as pessoas deste país a acreditar que uma mudança superficial na pigmentação da pele de alguma forma significaria uma mudança na política sistêmica, o que não aconteceu. Na realidade, Obama é um teleguiado e agora uma potente ferramenta nas mãos da elite corporativa e das classes dominantes desta nação. Em termos reais, e apesar da sua falsa retórica, a eleição de Obama está provando ser especialmente devastadora para negros e pobres dentro dos Estados Unidos. Ilusão e mito não devem jamais ser confundidos com realidade.

A Verdade – Como a recente crise do capitalismo afetou o povo dos Estados Unidos?
Larry Pinkney – Esta última crise aumentou a destruição da infraestrutura dos Estados Unidos e levou a um maciço crescimento do desemprego, dos despejos, da privatização da educação pública, da intensificação da degradação ambiental, da ampliação dos ataques do governo contra os sindicatos e filiados, bem como conduziu ao aumento da política de repressão interna e externa, no aspecto da continuação e exportação do “Ato Patriótico”– isto é, a continuação e exportação, pelos interesses militares e corporativos dos Estados Unidos, das guerras de agressão e imperialistas no Afeganistão, Iraque, Paquistão e onde quer que seja. O povo dos Estados Unidos está sofrendo cada vez mais, mas os meios de comunicação corporativos continuam agindo como quinta-coluna do governo dos Estados Unidos mediante a omissão e a constante disseminação da desinformação e de mentiras gritantes.

A Verdade – Qual foi a política interna dos Estados Unidos em relação à crise?
Larry Pinkney – A reação do governo à crise do capitalismo consistiu em sustentar criminosamente a mais alta elite das corporações de Wall Street, os responsáveis pela crise. O governo também usa táticas que vão do embuste ao medo – como essa falsa reforma da saúde, que é na verdade apenas outro grande presente financeiro para a elite corporativa. De manutenção do medo no povo ao propagar ameaças do “terrorismo”.

A Verdade – Como se encontra o movimento revolucionário nos Estados Unidos?
Larry Pinkney – O povo está se tornando cada vez mais consciente das contradições brutais desse sistema. Por exemplo, a juventude começa a se engajar em protestos maciços contra os preços escorchantes que se espera que ela pague pela educação universitária. Pessoas de diversas idades e cores estão se organizando e protestando contra a intensificação dos assassinatos por policiais (como o brutal assassinato de Oscar Grant, na Califórnia). O movimento antiguerra caminha de maneira vagarosa, porém constante, e também está indo às ruas. As pessoas começam a entender que o regime de Obama não é muito diferente do de seu predecessor. Todavia, a repressão governamental e policial e a omissão também estão crescendo nos Estados Unidos, e existe uma oportunidade e necessidade real para uma efetiva organização de massas capaz de reunir todas as questões acima mencionadas.

A Verdade – Qual a sua opinião sobre a política externa dos Estados Unidos?
Larry Pinkney – A política externa dos Estados Unidos é no fundo, a mesma de sempre, só que agora pior. É uma política de hipocrisia, agressão militar e mentiras. No exterior, por exemplo, os Estados Unidos arrotam sobre direitos humanos quando na verdade são os maiores violadores dos direitos humanos no planeta. A política externa estadunidense continua a ser uma tentativa de conter, controlar e dominar as legítimas aspirações dos povos de todo o mundo. Os Estados Unidos exportam reatores nucleares (para lucrar) para outras nações aliadas enquanto clamam, hipocritamente, preocupação com o meio ambiente. Entretanto, sua política externa é proibir, por exemplo, fazendeiros de outros países de usar suas próprias sementes para plantar comida, enquanto pressiona esses mesmos fazendeiros e suas famílias a usar as sementes geneticamente modificadas da Monsanto e outras corporações estadunidenses. Em essência, a política externa dos Estados Unidos é, em todos os níveis, uma política de omissão, de mentiras e de dominação. A política externa dos Estados Unidos é um reflexo de sua política interna.

O Partido de Autodefesa dos Panteras Negras (Black Panther Party for Self−defense)

Foto do Partido dos Panteras Negras

O nome Pantera Negra foi escolhido para o partido em razão da natureza da pantera: a pantera não é de atacar a alguém em primeiro lugar; mas quando é atacada e encurralada, responde ferozmente e sem piedade ao seu agressor, o que faz uma ligação com a idéia de “autodefesa” defendida por Malcolm X. Os dez pontos do programa defendidos pelo partido são:

Queremos liberdade. Queremos poder para determinar o destino da comunidade negra.
Queremos emprego para todo nosso povo.
Queremos o fim do roubo dos capitalistas a nossa comunidade negra.
Queremos moradias decentes, apropriadas para abrigar a seres humanos.
Queremos educação para nosso povo que exponha a verdadeira natureza desta sociedade decadente americana. Queremos uma educação que nos ensine nossa verdadeira história e nosso papel na sociedade de hoje.
Queremos que todos os negros sejam isentos do serviço militar.
Queremos um fim imediato da brutalidade policial e a os assassinos de gente negra.
Queremos liberdade para todos os homens negros presos em prisões federais, estatais, municipais e locais.
Queremos que toda a gente negra que seja levada a julgamento seja processada por um júri de sua raça ou gente da sua comunidade negra, tal como vem definido na Constituição dos Estados Unidos.
Queremos terra, pão, casas, educação, roupa, justiça e paz. E, como nosso maior objetivo político, um plebiscito supervisionado pelas Nações Unidas que será realizado em toda a colônia negra onde somente os sujeitos coloniais negros possam participar, para o propósito de determinar a vontade do Povo Negro assim como seu destino nacional.

Bruno Cruz, Rio de Janeiro

Charge de Larry Pinkney

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Programa de Bolsas para Afrodescendentes

(Genebra, 10 de Outubro a 4 de novembro de 2011)


No contexto do Ano Internacional dos Afrodescendentes, a Unidade Anti-Discriminação do escritório do Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas está lançando um programa de Bolsas para descendentes de africanos de 10 de outubro a 4 novembro de 2011.

O programa de bolsas proporcionará a oportunidade de aprofundar a compreensão do Sistema de Direitos Humanos das Nações Unidas e de seus mecanismos, com foco em questões de particular relevância as pessoas de ascendência africana.

Isso permitirá aos bolsistas contribuir de forma mais efetiva à proteção e a promoção dos Direitos civis, políticos, econômicos, sociais e cultural dos Afrodescendentes em seus respectivos países e comunidades.



Quem pode se candidatar?

* O candidato deve ser afrodescendente
* O candidato deve ter no mínimo 4 anos de experiência no tratamento de questões relativas aos afro-descendentes ou minorias.
* O candidato deve ser fluente em inglês.
* Uma carta de apoio de uma organização afrodescendente ou da comunidade


Processo de Seleção

Na seleção dos bolsistas, as questões de gênero, e um equilíbrio regional serão levados em conta. Os documentos apresentados deverão estar em Inglês.



Direitos

O candidato selecionado tem direito a uma bolsa para cobrir alojamento, as despesas básicas em Genebra, seguro básico de saúde, bem como um retorno de avião com bilhete de classe econômica.



Aplicação

Os candidatos interessados são convidados a apresentar o seu pedido por e-mail para: africandescent@ohchr.org ou por fax para: 004122-928 9050 com uma carta de apresentação indicando claramente "Application to the 2011 Fellowship
Programme for People of African Descent", com os seguintes documentos:


* Application form:
http://www.ohchr.org/Documents/Events/IYPAD/ApplicationFormIYPAD.pdf
* curriculum vitae
* carta de motivação (máximo de 1 página) onde o candidato explicará sua motivação para a candidatura, o que ele/ela espera alcançar através da bolsa e como ele/ela usará o que aprendeu para promover os interesses e os direitos dos afro-descendentes
* uma carta de apoio de uma organização /entidade parceira.


O prazo para recepção de aplicações é 15 de junho de 2011. Somente os candidatos pré-selecionados serão contatados.


MAGALI NAVES
Chefe da Assessoria Internacional
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
da Presidência da República. SEPPIR-PR
tel:- 2025 7020/7023 Fax - 2025 7089
Esplanada dos Ministérios - Bloco A - 9º andar
CEP:-70054-906 - Brasília - DF - Brasil


"O emitente desta mensagem é responsável por seu conteúdo e endereçamento. Cabe ao destinatário cuidar quanto ao tratamento adequado. Sem a devida autorização, a divulgação, a reprodução, a distribuição ou qualquer outra ação em desconformidade com as normas internas do Sistema Petrobras são proibidas e passíveis de sanção disciplinar, cível e criminal."

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"El emisor de este mensaje es responsable por su contenido y direccionamiento. Cabe al destinatario darle el tratamiento adecuado. Sin la debida autorización, su divulgación, reproducción, distribución o cualquier otra acción no conforme a las normas internas del Sistema Petrobras están prohibidas y serán pasibles de sanción disciplinaria, civil y penal."

Contribuição da colega Sássá

sábado, 11 de junho de 2011

Quilombolas incial greve de fome

A situação vivida pelos quilombolas do Maranhão é tão grave quanto a dos ambientalistas na Amazônia: dezenas de pessoas marcadas para morrer.

O motivo: não aceitam que suas comunidades se submetam aos caprichos dos latifundiários.

Abaixo reproduzo texto publicado no site da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), entidade que há mais de vinte anos atua em casos emblemáticos de violação de direitos no estado. Faço apenas algumas observações antes, para contextualizar a situação dos quilombolas.

O Maranhão da família Sarney, nos últimos 20 anos, foi invadido por plantadores de soja ou outras monoculturas, vindos principalmente do Sul.

Com terra e água em abundância, a devastação do cerrado tem ocorrido de forma assustadora. A ponto de a Câmara Municipal de Barreirinhas, a principal cidade dos Lençóis Maranhenses, ter aprovado lei que proíbe a plantação de soja na área do município.

Os latifundiários usam laranjas e contam com a vista grossa das autoridades locais e estaduais para abocanharem toda a terra que a ganância permite cobiçar.

Para dialogar com os quilombolas e outras populações tradicionais, os sojeiros e seus aliados costumam usar argumentos convincentes e modernos, com 12, 22, 32 e 38 milímetros de razão.

Flaviano Neto, um dos líderes do quilombo Charco, em São Vicente Férrer, na Baixada Maranhense, foi executado em outubro de 2010. Outros atentados ocorreram desde o crime, inclusive no final de maio, contra a comunidade do Charco. No último dia 30 de maio, a casa de Almirandir Pereira Costa, vice-presidente da associação local, foi atingida por três tiros.

Se a indignação já torna doloroso escrever (ou ler) estas linhas, tente imaginar a situação de quem vive 24 hora por dia sabendo que pode ser assassinado a qualquer momento, pelo “crime” de não querer sair de sua terra.

Nesse contexto, os quilombolas acamparam em frente ao Palácio dos Leões (sede do governo) e também se manifestaram diante do Tribunal de Justiça (que, no Maranhão, está longe de ser justo, sendo eufemista). Estão desde a semana passada acampados na sede do INCRA e, desde a manhã de ontem, dezessete pessoas estão em greve de fome, que só vai parar, segundo eles, quando a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, for ouvir suas reivindicações.

Segue o texto da SMDH. Por favor, divulgue o mais amplamente possível.
Acampados decretam greve de fome

http://www.smdh.org.br

Dezeoito lideranças quilombolas e iniciaram greve de fome na manhã de ontem (9) no Acampamento Negro Flaviano, instalado no INCRA-MA. (Foto: Silvana Reis)

De costas para a plenária e de frente para as autoridades e lideranças que compunham a mesa de trabalhos, 18 lideranças quilombolas revezavam-se entre o sentar e o deitar, tendo decretado greve de fome na manhã de hoje (9). O gesto extremo foi o meio de chamar a atenção dos governos para os graves problemas enfrentados por diversas áreas em conflito no Maranhão.

Com a presença fixa de cerca de cem quilombolas de 40 comunidades, o Acampamento Negro Flaviano, que ora ocupa as instalações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Maranhão, teve início no último dia 1º. de junho, quando realizou diversas atividades e manifestações pacíficas em frente às sedes do judiciário e executivo estadual, ambos na Praça D. Pedro II, no centro da capital maranhense.

“Estivemos lá, na porta do Palácio [dos Leões], na porta do Tribunal de Justiça, mas precisamos vir e ficar aqui por dez dias”, contabilizou um dos manifestantes ao fazer uso da palavra nesta tarde. Representantes das secretarias estaduais de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Justiça e Administração Penitenciária estiveram no auditório do Incra, fazendo promessas sem data para cumpri-las, após a passagem de representantes da Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial da Presidência da República no dia anterior (8). Há inclusive a de que seja publicado um decreto para orientar os procedimentos a serem tomados pelo Iterma para a regularização fundiária – previsto com base sabe-se lá em quê para ser assinado em 15 de julho.

“Estão sendo feitas diversas promessas, mas que estrutura se criará para isso? Com que recursos? Como garantir o registro de boletins de ocorrência em delegacias onde não há delegados? Quem sofre ameaça no interior não virá à capital fazer denúncias. A ouvidoria agrária está criada desde 2009, mas nunca saiu do papel. Se será de fato criada, que estrutura e recursos terá? As coisas não acontecem, apesar do repasse de recursos do governo federal. Promessas acontecem agora a partir da pressão. O governo parece querer apenas se justificar perante a imprensa e ao governo federal. O governo estadual tem responsabilidades a cumprir”, questionava Pe. Inaldo Serejo, coordenador da Comissão Pastoral da Terra no Maranhão.

O Maranhão tem 59 quilombolas ameaçados de morte nas cerca de 170 áreas em conflito no estado, de acordo com dados do caderno Conflitos no Campo 2010, publicação da CPT/MA. O estado ocupa o primeiro lugar em mais esta trágica estatística.

Lideranças do acampamento afirmaram que “não sairão daqui de mãos abanando”. A ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário deve vir à São Luís para uma rodada de negociações – ela encontra-se no Pará, onde se reunirá com representantes da CPT no estado para tratar dos recentes assassinatos de lideranças camponesas.

O estabelecimento de prazos urgentes para a inclusão dos ameaçados de morte no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, a realização de audiências públicas para discutir as áreas quilombolas em conflito no estado, o estabelecimento de grupo de trabalho para propor os procedimentos de titulação das áreas quilombolas e a instalação de escritório da Fundação Cultural Palmares em São Luís estão entre as diversas reivindicações dos acampados.

Manifestantes em greve de fome no auditório do Incra; no detalhe, Pe. Clemir Batista, de Pinheiro/MAEntre as lideranças em greve de fome estão o Pe. Clemir Batista, da CPT de Pinheiro/MA, e Almirandir Costa, do quilombo Charco, em São Vicente de Férrer, palco do brutal e covarde assassinato de Flaviano Pinto Neto, que batiza o acampamento, em outubro do ano passado. Indagado se notava alguma evolução nas negociações ao longo dos dias, o segundo não hesitou em afirmar que tudo não passava de “enrolação do governo”.

*Zema Ribeiro é assessor de comunicação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Comunidade quilombola de Cairu (BA) é ameaçada por fazendeiro

Batateira, quilombo situado numa ilha no município de Cairu BA, tem passado nos últimos dois anos por momentos de terrorismo por um pseudo-fazendeiro que se diz dono da terra.
Por Rede Mocambos [01.06.2011 19h10]
A comunidade quilombola de Batateira, localiza-se na Ilha de Tinharé, nas proximidades da Vila de Garapuá e pertence ao município de Cairu (BA). Como se trata de uma ilha, a natureza de sua área é de responsabilidade da União. Os moradores que ocupam o local estão ali há mais de 100 anos, tendo toda a ancestralidade comunitária e de parentesco reconhecida pela Fundação Cultural Palmares. São cerca de 30 famílias que sobrevivem em situações precárias, em casas em sua maioria de taipa, palha e madeira. A comunidade não tem energia elétrica e é desprovida dos principais serviços básicos que qualquer cidadão tem direito

O Conflito na região começou em 2009, quando houve a mobilização da comunidade pelo pedido de reconhecimento quilombola, com freqüentes visitas à comunidade e com seguidas ameaças de Manoel Palmas Ché Filho, filho do ex-prefeito de Cairu. Em maio de 2010, o conflito teve início quando, numa visita do "Maneca Ché", como é conhecido, mais cinco policiais fardados e outros homens, todos armados com armas de fogo, diziam ter mandato judicial para estarem ali, além de reforçar as ameaças derrubaram o pier que a comunidade usava como embarque e desembarque.

Depois que a Fundação Palmares expediu a certidão quilombola à comunidade, os seus moradores voltaram a receber novas ameaças, foi quando em 09 de setembro de 2010, Manoel Che Filho invadiu a comunidade com mais 12 homens, entre eles 3 policiais a paisana. Eles chegaram às 7h da manhã e ficaram até às 15h. Nesse período de 8h que permaneceram na comunidade, derrubaram três casas, atiraram várias vezes pra cima, colocaram revolveres na cabeça de mulheres e adolescentes, xingaram os moradores, colocaram a liderança da comunidade Claudeci numa roda com 12 homens e bateram no seu rosto, ameaçando sua vida, na frente das crianças da comunidade, inclusive seu filho de 5 anos, que tem demonstrado traumas de ter presenciado a violência com sua comunidade e sua família.

O comandante da Polícia Militar de Valença, major José Raimundo Carvalho Pessoa, esclareceu que a atuação ilegal de policiais militares que deram apoio ao "Maneca Che", correu à revelia do Comando da 33ª Companhia Independente da Polícia Militar de Valença. Em depoimento, os policiais denunciados negaram a participação no caso denunciado e recorreram ao direito de falar somente em juízo e na presença do advogado. Não se tem informação de que o processo judicial foi aberto.

Em outubro de 2010 foi realizada uma audiência pública organizada pela SEPROMI, que teve como objetivo de ouvir, avaliar e traçar estratégias para solucionar os sucessivos conflitos ocorridos na Comunidade de Batateira. Participaram da audiência autoridades, o pseudo-fazendeiro Maneca Che e seus representantes, a sociedade civil representada pelos movimentos de pescadores, Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra, o Conselho Pastoral da Pesca, Quilombolas de outras regiões, Representantes do INCRA, DPE, SPU, Governo do Estado, Prefeitura de Cairu etc.

Há poucos dias, as ameaças retornaram, o pseudo fazendeiro insiste que vai voltar na comunidade e derrubar o resto das casas. A liderança da comunidade vem sendo seguida e ameaçada de morte, as famílias estão apavoradas.

Não existe nenhum advogado assistindo a comunidade, o que gera uma preocupação ainda maior. No último sábado, 28 de maio, Manuel Che voltou à comunidade com mais sete homens e voltou a fazer ameaças, alegou ter ordem judicial para não permitir nenhuma construção mais naquela ilha (mas não mostrou o documento), o que resultou na derrubada de mais uma casa na comunidade e a ameaça que ele estaria voltando com um grupo de criminosos para aterrorizar e levar tudo abaixo nos próximos dias. As famílias, em especial as crianças, estão apavoradas. A polícia, apesar de acionada durante nova invasão, só apareceu na comunidade horas depois e em nenhum momento consegue gerar nenhum tipo de proteção à mesma. Todos os indícios e o histórico desses dois anos revelam na verdade uma polícia comprometida com a ação criminosa do pseudo-fazendeiro, até por que, nenhum criminoso age tão abertamente como esse senhor, sem sofrer prisão preventiva, se não tiver uma cobertura, ou no mínimo uma escancarada omissão da polícia com o caso.

Esse breve texto tem como intuito chamar a atenção dos organismos e instituições estaduais, nacionais e internacionais a respeito da proteção dos direitos humanos, dos direitos das crianças e dos adolescentes, dos afrodescendentes em suas comunidades quilombolas e dos direitos das mulheres, assim como o apoio de diferentes tipos de mídias que possam colaborar com o apoio à comunidade.